“Você
podia ter vivido sem o coração apertado com ela, rapaz. Mas vai que vocês se
esbarram noutro dia, por acaso ou poesia, e decidem se encontrar?”
Daniel Bovolento
Ando pensando em você nesses últimos dias. Voltei
até a escrever longos relatos cheios da minha sinceridade guardada e sentida.
Mirei a tela iluminada e me forcei a desabafar o que tem me apreendido aqui por
dentro. As coisas andam mais pesadas, sabe? Me vi dando longos suspiros nessas
últimas semanas, coisa que há tempos já não me familiarizava. Cheguei até a
sentir o coração parar por um instante hoje, quando vi aquela sua foto de
sorriso largo e barba rala. Acho que dói. Mas é uma dor doída gostosa. Como se
um abismo fosse se abrir à minha frente a qualquer momento e você fosse
estar lá para me segurar. Um risco de me perder de mim para me encontrar em
você. Faz sentido?
Ontem subi uma foto pelo celular que era pra você.
Algo me diz que você entendeu isso, apesar de a legenda não ter sido clara.
Logo quando pensei em postá-la, lembrei dos versos de Tom e, com uma
necessidade visceral, queria intitulá-la com aquelas referências de tristeza,
ausência, presença. Deixando claro que tinha cansado daquela saudade. Mas o meu lado
racional e dominador, como sempre, tomou frente, e optei por entrelinhas com
uma outra canção – mais suave -, mas que também fala um tanto da gente. Da
gente junto mesmo. Perto, próximo, real. E fui chamada a atenção por uma amiga,
com uma dose forte de realidade: “Que ‘a gente’?”. E doeu. Acho até que doeu de
verdade. Achei por um momento que ela fazia o papel de Deus e me lembrava que
você não era pra mim. Que eu não era pra você e que a gente já não faz um par
há um tempo. Mas será mesmo?
A dor daqui me repete, o tempo todo, o contrário. A
minha versão é que a gente ainda vai se encontrar de verdade por alguma esquina
quente ou em algum planalto cinzento em um mês de agosto qualquer. Mas não sei.
Você, recluso e tão você, não tem mostrado a que veio. Nem a que virá. Nem se
me “querá” um dia ao seu lado pra assistir e narrar tudo de bonito que você
virá a prometer a uma aldeia afincada de histórias fortes. E como bem diz o
ditado adaptado de uma amiga, quando um não quer, dois não se beijam. Não se
entregam. Não se veem. Não se enxergam. Vale, então, se prender às preces
diárias e torcer para que você volte a me ler por entre minhas risadas sem
graça e pelas minhas mãos inquietas, querendo você sempre mais perto? Eu queria
você aqui. Eu queria aquele tempo de início de janeiro e saudade de volta. Eu
queria “a gente” de verdade, como desde o início eu imaginei que seria. Anotou,
Deus?
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