segunda-feira, 10 de junho de 2013

Aos céus



“Você podia ter vivido sem o coração apertado com ela, rapaz. Mas vai que vocês se esbarram noutro dia, por acaso ou poesia, e decidem se encontrar?”

Daniel Bovolento

Ando pensando em você nesses últimos dias. Voltei até a escrever longos relatos cheios da minha sinceridade guardada e sentida. Mirei a tela iluminada e me forcei a desabafar o que tem me apreendido aqui por dentro. As coisas andam mais pesadas, sabe? Me vi dando longos suspiros nessas últimas semanas, coisa que há tempos já não me familiarizava. Cheguei até a sentir o coração parar por um instante hoje, quando vi aquela sua foto de sorriso largo e barba rala. Acho que dói. Mas é uma dor doída gostosa. Como se um abismo fosse se abrir à minha frente a qualquer momento e você fosse estar lá para me segurar. Um risco de me perder de mim para me encontrar em você. Faz sentido?

Ontem subi uma foto pelo celular que era pra você. Algo me diz que você entendeu isso, apesar de a legenda não ter sido clara. Logo quando pensei em postá-la, lembrei dos versos de Tom e, com uma necessidade visceral, queria intitulá-la com aquelas referências de tristeza, ausência, presença. Deixando claro que tinha cansado daquela saudade. Mas o meu lado racional e dominador, como sempre, tomou frente, e optei por entrelinhas com uma outra canção – mais suave -, mas que também fala um tanto da gente. Da gente junto mesmo. Perto, próximo, real. E fui chamada a atenção por uma amiga, com uma dose forte de realidade: “Que ‘a gente’?”. E doeu. Acho até que doeu de verdade. Achei por um momento que ela fazia o papel de Deus e me lembrava que você não era pra mim. Que eu não era pra você e que a gente já não faz um par há um tempo. Mas será mesmo?

A dor daqui me repete, o tempo todo, o contrário. A minha versão é que a gente ainda vai se encontrar de verdade por alguma esquina quente ou em algum planalto cinzento em um mês de agosto qualquer. Mas não sei. Você, recluso e tão você, não tem mostrado a que veio. Nem a que virá. Nem se me “querá” um dia ao seu lado pra assistir e narrar tudo de bonito que você virá a prometer a uma aldeia afincada de histórias fortes. E como bem diz o ditado adaptado de uma amiga, quando um não quer, dois não se beijam. Não se entregam. Não se veem. Não se enxergam. Vale, então, se prender às preces diárias e torcer para que você volte a me ler por entre minhas risadas sem graça e pelas minhas mãos inquietas, querendo você sempre mais perto? Eu queria você aqui. Eu queria aquele tempo de início de janeiro e saudade de volta. Eu queria “a gente” de verdade, como desde o início eu imaginei que seria. Anotou, Deus?

quarta-feira, 16 de janeiro de 2013

Até breve. Ou não.



Despedidas não costumam ser fáceis. Pra mim, elas têm um peso ainda maior, acho. Sempre encarei esses momentos de frente me permitindo chorar até secar o coração ou permanecer em silêncio por horas a fio a partir do momento em que o avião levantava voo e não fazia caminho de volta. Sei que existem pessoas mais brandas. Que não se derramam tanto. Respeito. Chego a ter até uma certa admiração ínfima, assumo. Mas não trocaria minhas mil sensações.

O fato é que elas - as despedidas - têm sido recorrentes nos últimos tempos. Seja entrelinhas naquele texto que o alvo provavelmente nunca lerá ou em um adeus com direito a fila de abraços, desejando bons fluídos em um novo caminho. E parei pra pensar no que fazer com as despedidas que se foram e com as tantas que ainda virão. Nostalgia afincada faz mal. Te prende no passado. Saudade em momento frágil também é perigoso. Dá uma mordida e depois sai da sala sem nem assoprar.

Pois o que fazer? Na lista dos desejos, espero que os momentos bons se salvem coloridos. Que o aprendizado tenha sempre preferência frente às noites de insônia após palavras malignas. Ou aos vazios deixados pelos espaços em pleno domingo que bonito virou cinzento. Que mesmo quando alguém querido dobre a esquina e o convívio se torne improvável ou malquisto, haja força interior além para fazer permanecer os bons votos. Os que pareciam sinceros, pelo menos. Mesmo que não concretizados. Que não sobre dor. Nem possíveis “e se?”. Que não haja espaço para possessividade com o que nunca foi nosso, mas já esteve tão real e vivo no dia a dia que quase virou mesma carne. Que haja sabedoria para enxergar que caminhos hão de ir e vir. Por curtos ou longos períodos. Mas não necessariamente terão sempre que coincidir. E que tenha luz. Pra ver claramente tudo isso, sentir vontade de pedir pra ficar e, ainda assim, dizer: “Tá vendo aquele horizonte sonhado lá? Pode ser seu. Vai buscar”. Daqui, de longe, que nós aprendamos a ver o outro brilhar e voar para além dos nossos olhos. Para além da vontade de puxar pra perto e segurar.