domingo, 26 de setembro de 2010

Elo

(Brasília, agosto de 2010)


Sabiá, Sabiá,

Quanto tempo! Quanta coisa pra contar...

Mal sabes tudo que me aconteceu nesse pouco tempo de primavera.

Sabiá, estou triste. Triste mesmo. Não como algo passageiro, mas como um estado de espírito. Tão ruim ser assim.


Você deve estar rindo agora.

Imaginando: “Humrum, Flor triste...”

Não consegues imaginar, eu sei. Foi difícil para mim me acostumar com isso também.


Sabiá, sabe o que é mais contraditório?

Amei. Me apaixonei. Mergulhei naquela sequência de sensações maravilhosas pro corpo e pro sorriso, como você tanto me aconselhou. Respirei o outro até a última gota – sei que isso não fazia parte do passo-a-passo, mas parecia tão natural. Você sabe como sou com um porto seguro, não sabe? Me finco, me apego e não quero largar mais.

Me deixaram, Sabiá. Me deixaram sozinha, sem rumo. E o que é pior: sem meu amor.


Como podem fazer isso com a gente?

Arrancar algo que é só seu, e que não pertence a ninguém, muito mesmo ao outro, e levá-lo embora, fingindo que aquilo nunca existiu.

Ah, meu amigo, a vida é triste. Assim como sou agora.


Me tornei descrente, acredita?

Me tornei descrente de mim no fim das contas. Do que sou capaz, se consigo mesmo ser alguém, se consigo escrever frases bonitas e coloridas outra vez.

Mas essa coisa de poética fica para a próxima. Já lhe enchi com melancolia demais para apenas uma lauda.


Se cuide. E cuide de mim, mesmo que de longe.


PS: Estou precisando de uma bezendeira? Conhece alguma.


Sua Flor triste.

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